Em sua análise, Barthes, define a
fotografia como aventura e o que a faz existir é a animação (ela anima-me e eu animo-a). Nem todas as imagens despertam
emoções e desejos, por isso procuremos por aquelas que nos despertam prazeres e
nos fazem viver a verdadeira AVENTURA fotográfica.
Fernanda Sena
Fotografia como aventura
Roland
Barthes (A Câmara Clara)
Decidi então tomar como guia da minha
nova análise a atracção que sentia por certas fotos. Porque desssa atracção,
pelo menos, eu estava seguro. Como designá-la? Fascínio? Não. Essa fotografia
que eu distingo, e de que gosto, nada tem a aver com o ponto brilante que se agita
diante dos olhos e faz menear a cabeça; o que ela produz em mim é mesmo o
contrário da estupidez. É antes uma agitação interior, uma festa, também um
trabalho, a pressão do indizível que quer ser dito. Então? Interesse? Isso é
pouco;não preciso interrogar a minha emoção para enumerar as diferentes razões
que podem levar-nos a interessarmos-nos por uma foto. Podemos desejar o objeto,
a a paisagem, o corpo que ela representa; amar ou ter amado o ser que ela nos
dá a reconhecer; espantarmo-nos com o que vemos; admirar ou discutir o trabalho
do fotógrafo, etc. Mas estes interesses são inconsistentes, heterogêneos; uma
determinada foto pode satisfazer um deles e interessar-me pouco. E se uma outra
me interessa bastante, eu gostaria de saber o que é que, nessa foto, fez tilt dentro de mim. Assim, perecia-me
que a palavra mais adequada para designar (provisoriamente) a atracção que certas fotografias exercem sobre
mim era aventura. Uma determinada foto acontece-me, uma outra não.
O princípio de aventura permite-me
fazer existir a Fotografia. De um modo inverso, não há foto sem aventura. Cito
Sartre: “ As fotos de um jornal podem muito bem ‘não me dizer nada’, o que
significa que eu as olhos sem lhes reconhcer a existência. Então, as pessoas
cuja fotografia eu contemplo são bem captadas através dessa fotografia, mas sem
posição existencial, tal como o Cavaleiro e a Morte, que são captados através
de Durer, mas sem que eu lhes reconheça a existência. Aliás, podemos encontrar
casos em que a fotografia me deixa num tal estado de indiferença que eu nem
sequer efectuo a “mise em image”. A fotografia é vagamente constituída em
objecto e as personagens que nela figuram são realmente contituídas em
personagens, mas apenas pela sua semelhança com os seres humanos, sem uma
intencionalidade particular. Elas flutuam entre a margem da percepção, a do signo e a da imagem, sem nunca abordar
qualquer delas”.
Neste deserto monótono, surge-me
inesperadamnete uma fotografia: ela anima-me e eu animo-a. É, portanto, assim
que eu devo denominar a atracção que a faz existir: uma animação. A fotografia
em si mesma não é animada em nada ( não acredito nas fotografias “vivas”) mas
ela anima-me: é o que toda aventua faz.















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