sexta-feira, 11 de janeiro de 2013



Fotografia: a arte dos eus*





*Fernanda Sena

 

Fotografia é a arte da representação do real, daquilo que observamos e participamos. O fotógrafo Antônio Augusto Fontes declara a importância desta ao mencionar que a “fotografia para os japoneses é sha-shin, a imagem real. Talvez esta seja a grande especificidade da fotografia, porque é a imagem que tem um contato físico, concreto, químico, com o real. É um fragmento do real. Tem uma carga mágica desse real”¹. Essa “carga mágica” está intrinsecamente ligada aos eus do universo fotográfico: o eu fotógrafo ocupa-se com o melhor ângulo, contrastes, nitidez e fontes luminosas. “Eu atuo tão normalmente – conta o americano Willian Klein considerado um mestre no uso da grande angular, e cuja maior parte do trabalho consiste em fotos de multidão – que fico quase invisível. Não faço do ato de tirar fotos um grande acontecimento, nem chego de forma agressiva. Então logo logo as pessoas não prestam mais atenção em mim”². O eu fotografado das cenas e movimentos é coparticipante dos devires, do mundo digital, do reconhecimento imediato e universal; constituindo o eu da imagem, das poses, o eu da aparência. O eu receptor admira, informa, classifica as fotos em boas e ruins; volta-se ao passado – papel/digital – das revistas, dos álbuns, dos jornais, confirmando o passado – presente. Os eus artistas – coexistem com os outros eus – definem a fotografia como arte inovadora e fazem com que esta aliada aos avanços tecnológicos se concretize como forma de expressão e interação com a vida, como bem define Juca Martins: “as boas fotos são aquelas que se impõem por elas mesmas, levantam questões, propõem reflexões, despertam emoções. Operar este ofício me fez descobrir que a vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, é apenas o que somos”³.
Portanto, “nosso eu” participa desta arte, que é eminentemente sensorial e sensitiva, constantemente pelo prazer que as sensações visuais nos causam como “explica Aristóteles na abertura da sua ‘Metafísica’ – Por natureza todos os homens desejam conhecer. Prova disto é o prazer causado pelas sensações, pois mesmo fora de qualquer utilidade nos agradam por si mesmas, e, acima de todas, as sensações visuais. Com efeito, não só para agir, mas ainda quando não nos propomos a nenhuma ação, preferimos a vista a todo resto. A causa disto é que a vista é, de todos os nossos sentidos, aquele que nos faz adquirir mais conhecimento e que nos faz descobrir mais diferenças”4.




REFERÊNCIAS

***GURAN, MILTON. Linguagem fotográfica e informação. Rio de Janeiro: Rio Fundo, 1992, 112 p.

1 FONTES, ANTONIO AUGUSTO, in Olhares Refletidos. org. Joaquim Paiva. AGL. Dazibao. Rio de Janeiro, 1989, p.151.

2 Klein, William. Entrevista a revista Popular Photography. Março de 1991. p. 45.     

3Martins,  Juca. Juca Martins – Antologia Fotográfica. AGIL/DAZIBAO, Rio de Janeiro, 1990.

4 Citado por Marilena Chauí no artigo “Janela da Alma, Espelho do Mundo”. In O Olhar. Org. Adauto Novaes. Companhia das Letras, SP, 1988.




ઇ‍ઉ  Eu... Arte...Fotografia! 

 

Christopher Anderson -  Canada, 1970

 

  

*Henri Cartier-Bresson


  






 







































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