segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ensaios e fotografia




DENTRO DOS OLHOS*



*Roland Barthes

                            

Em dado momento, a psicanálise (Lacan, Séminaire I, p. 243) define a intersubjetividade imaginária como uma estrutura de três termos: 1. eu vejo o outro; eu o vejo ver-me; 3. ele sabe que o vejo. Ora, na relação amorosa, o percurso do olhar é mais direto; salta um trajeto. Sem dúvida, nessa relação, por um lado, vejo o outro com intensidade; vejo apenas esse outro, analiso, quero penetrar o segredo desse corpo que desejo; e, por outro lado, eu o vejo ver-me: fico intimidado, inativo, passivamente constituído por esse olhar todo-poderoso; essa loucura é tamanha, que não posso (ou não quero) reconhecer que ele sabe que o vejo- o que me desalienaria: vejo-me cego diante dele. 


***

Como espaço de significância, o olhar provoca uma sinestesia, uma indivisão de sentidos (fisiológicos), cujas impressões comungam, de maneira que se possa atribuir a um, poeticamente, o que acontece ao outro ( Il est des parfums frais comme des chairs d' enfant): todos os sentidos podem, pois, "olhar", e inversamente, o olhar pode sentir, escutar, tocar etc. Goethe: "As mãos querem ver, os olhos querem acariciar". 

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