*Fernanda Sena
A
música aquece a alma e o amor como bem explicita Sêneca “não se define;
sente-se”. Em poucos dias, sem caracterizar a manipulação da mídia, a música de
Roberto Carlos alvo de críticas, elogios, suspiros e ilusões tem inundado o
cenário brasileiro caracterizando o homem perfeito. As atitudes enunciadas por
Roberto de um homem amante idealizado por “todas” leva-nos a questionamentos
sobre a existência deste homem ideal e às possíveis análises sobre o amor.
Em
nosso discurso diário mencionamos o amor como o sentimento que predispõe alguém
a desejar o bem de outro e o sentimento como inclinação sexual por outra
pessoa. O apóstolo Paulo ao mostrar-nos um caminho sobremodo excelente declara
que “ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor,
serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” e mais “ agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o
amor”.
Salomão
no livro de Cantares “beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o
seu amor do que o vinho” e "Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada
tão aprazivelmente ao seu amado? Põe-me como selo sobre o teu coração, como
selo sobre teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a
sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, labaredas do Senhor. As
muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém
desse toda a fazenda de sua casa por este amor, certamente a desprezariam”.
Com
o filósofo dinamarquês
KierKegaard temos três discursos
diferentes sobre o amor. No discurso proferido por Johannes ( O Sedutor) da
obra O
Banquete, para ele ( Johannes) o amante feliz é aquele capaz de se
entregar ao prazer sensual sem se deixar dominar. O Sedutor expressa elogios à
mulher, mas como talvez o mais fiel representante do estádio estético (para o
filósofo há três estádios: estético, ético e religioso que representam as três
dimensões fundamentais da existência) Johannes seguirá seus desejos,
aproveitará do que há de melhor na companhia de uma mulher, sem se deixar
dominar, mantendo-se livre para apreciar outras. Ele está voltado para o gozo e
o desejo, sendo representante do desvio e da fugacidade.
No
discurso A obra do amor que consiste em fazer o elogio do amor é
relevante direcionarmos para a frase inicial do discurso: “Arte não está em
dizê-lo, mas em fazê-lo”, no que toca do amor, o importante não é falar sobre,
declamar, dissertar, mas antes realizar, concretizar, existir nele. O amor, na
compreensão cristã, se expressa em obras, faz parte da prática. Não se trata
nem de falar bem e bonito, trata-se do “vai e faz o mesmo”. O amor cristão não
é procedente do indivíduo, mas de Deus. Entretanto, cabe ao indivíduo cumprir o
mandamento do amor.
Já
na obra o Matrimônio, o amor é assimilado por Kierkegaard como união, sendo
este o ponto fundamental do matrimônio. O amor conjugal como menciona em sua
obra implica o dever no ético e no religioso. Ele declara: “Para mim o dever
não é um clima, e o amor, outro; para mim, o dever faz do amor o verdadeiro
clima temperado e vice-versa; é essa síntese perfeita”. “O dever é simplesmente
um dever, que consiste em amar realmente, no movimento interior do coração”.
Nas
três obras mencionadas o dinamarquês tem um pensamento reflexivo bastante
abrangente e é esta abrangência que nos remete aos estádios da existência
presentes em seus discursos e evidentes em nossa realidade.
No
discurso do Sedutor, segundo o autor, os valores estéticos originários do
romantismo influenciaram muito de seus contemporâneos. Neste estádio os
objetivos não são claros e se perdem. Em a Obra do amor que consiste em fazer o
elogio do amor temos o estádio religioso, há uma crença em algo superior Deus.
Este estádio é pessoal, subjetivo; no discurso do amor há o próprio elogio do
amor, quando feito corretamente já constitui uma obra de amor. Com o Matrimônio
ocorre o estádio ético marcado essencialmente por uma vida coerente
governada por normas morais. O casamento, por exemplo, será então, um meio pelo
qual duas pessoas fazem uma opção e é aqui que se evidencia conscientemente a
vida ética: terá o homem que empenhar toda força para manter a vida conjugal.
Descrever
passagens, envolver-se em canções e discursos sobre o amor é intrínseco ao ser
humano; estamos envolvidos em discursos que (des) constroem o amor definindo-o;
Roberto Carlos em entrevista declara que “tenta ser este cara” ao proferir o
amor no dia a dia e nos gestos e
palavras de sua canção.
Como
co- participante destes discursos falo do amor como a suprema, excelente e inexprimível arte de perceber, sentir, praticar, concretizar...onde os objetivos
são claros e não se perdem; “existimos nele”. “... O amor não se alegra com a
injustiça, mas regozija-se com a verdade”.
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