segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

* Discursos sobre o amor...





*Fernanda Sena

A música aquece a alma e o amor como bem explicita Sêneca “não se define; sente-se”. Em poucos dias, sem caracterizar a manipulação da mídia, a música de Roberto Carlos alvo de críticas, elogios, suspiros e ilusões tem inundado o cenário brasileiro caracterizando o homem perfeito. As atitudes enunciadas por Roberto de um homem amante idealizado por “todas” leva-nos a questionamentos sobre a existência deste homem ideal e às possíveis análises sobre o amor.

Em nosso discurso diário mencionamos o amor como o sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outro e o sentimento como inclinação sexual por outra pessoa. O apóstolo Paulo ao mostrar-nos um caminho sobremodo excelente declara que “ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” e mais “ agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor”.

Salomão no livro de Cantares “beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho” e "Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada tão aprazivelmente ao seu amado? Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, labaredas do Senhor. As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse toda a fazenda de sua casa por este amor, certamente a desprezariam”.

Com o filósofo dinamarquês KierKegaard temos três discursos diferentes sobre o amor. No discurso proferido por Johannes ( O Sedutor) da obra O Banquete, para ele ( Johannes) o amante feliz é aquele capaz de se entregar ao prazer sensual sem se deixar dominar. O Sedutor expressa elogios à mulher, mas como talvez o mais fiel representante do estádio estético (para o filósofo há três estádios: estético, ético e religioso que representam as três dimensões fundamentais da existência) Johannes seguirá seus desejos, aproveitará do que há de melhor na companhia de uma mulher, sem se deixar dominar, mantendo-se livre para apreciar outras. Ele está voltado para o gozo e o desejo, sendo representante do desvio e da fugacidade.

No discurso A obra do amor que consiste em fazer o elogio do amor é relevante direcionarmos para a frase inicial do discurso: “Arte não está em dizê-lo, mas em fazê-lo”, no que toca do amor, o importante não é falar sobre, declamar, dissertar, mas antes realizar, concretizar, existir nele. O amor, na compreensão cristã, se expressa em obras, faz parte da prática. Não se trata nem de falar bem e bonito, trata-se do “vai e faz o mesmo”. O amor cristão não é procedente do indivíduo, mas de Deus. Entretanto, cabe ao indivíduo cumprir o mandamento do amor.

Já na obra o Matrimônio, o amor é assimilado por Kierkegaard como união, sendo este o ponto fundamental do matrimônio. O amor conjugal como menciona em sua obra implica o dever no ético e no religioso. Ele declara: “Para mim o dever não é um clima, e o amor, outro; para mim, o dever faz do amor o verdadeiro clima temperado e vice-versa; é essa síntese perfeita”. “O dever é simplesmente um dever, que consiste em amar realmente, no movimento interior do coração”.

Nas três obras mencionadas o dinamarquês tem um pensamento reflexivo bastante abrangente e é esta abrangência que nos remete aos estádios da existência presentes em seus discursos e evidentes em nossa realidade.

No discurso do Sedutor, segundo o autor, os valores estéticos originários do romantismo influenciaram muito de seus contemporâneos. Neste estádio os objetivos não são claros e se perdem. Em a Obra do amor que consiste em fazer o elogio do amor temos o estádio religioso, há uma crença em algo superior Deus. Este estádio é pessoal, subjetivo; no discurso do amor há o próprio elogio do amor, quando feito corretamente já constitui uma obra de amor. Com o Matrimônio ocorre o estádio ético marcado essencialmente por uma vida coerente governada por normas morais. O casamento, por exemplo, será então, um meio pelo qual duas pessoas fazem uma opção e é aqui que se evidencia conscientemente a vida ética: terá o homem que empenhar toda força para manter a vida conjugal.

Descrever passagens, envolver-se em canções e discursos sobre o amor é intrínseco ao ser humano; estamos envolvidos em discursos que (des) constroem o amor definindo-o; Roberto Carlos em entrevista declara que “tenta ser este cara” ao proferir o amor  no dia a dia e nos gestos e palavras de sua canção.

Como co- participante destes discursos falo do amor como a suprema, excelente e inexprimível arte de perceber, sentir, praticar, concretizar...onde os objetivos são claros e não se perdem; “existimos nele”. “... O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade”.

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