terça-feira, 25 de setembro de 2012



Maurice Merleau-Ponty, em sua Fenomenologia da Percepção, realiza uma importante explanação:

“Estamos habituados pela tradição cartesiana, a nos desprendermos do objeto: a atitude reflexiva purifica simultaneamente a noção comum do corpo e da alma definindo o corpo como uma soma de partes sem interior e a alma como um ser presente inteiramente em si mesmo sem distância. Estas definições correlativas estabelecem a clareza em nós e fora de nós: transparência de um objeto sem ondulações, transparência de um sujeito que só é o que pensa ser. O objeto é objeto de um lado a outro e a consciência de um lado a outro. Há dois sentidos, e somente dois, da palavra existir: existe-se como coisa ou existe-se como consciência. A experiência do corpo próprio, pelo contrário, nos revela um modo de existência ambíguo. Se tento pensá-lo como um feixe de processos na terceira pessoa - visão, motricidade, sexualidade - percebo que estas “funções” não podem estar unidas entre si e ao mundo exterior por relações de causalidade, elas são todas confusamente retomadas, e implicadas num drama único. O corpo não é, pois um objeto. Pela mesma razão a consciência que tenho não é um pensamento, quer dizer que não posso decompô-lo e recompô-lo para formar dele uma idéia clara. Sua unidade é sempre implícita e confusa. Ele é sempre outra coisa além do que é sempre sexualidade ao mesmo tempo em que liberdade, enraizando na cultura, no momento em que se transforma pela cultura, nunca fechando sobre si mesmo, e nunca ultrapassando. Se se trata do corpo de outro ou de outro ou de meu próprio corpo, não tenho meio de conhecer o corpo humano senão vivendo-o, quer dizer, retomar por minha conta o drama que o atravessa e me confundir com ele."

   ***Merleau-Ponty mostra o corpo como uma atividade expressiva que precisa ser vivida para dar conhecimento a um sentido. Nós vivemos nas coisas e nas ideias; estamos no corpo enquanto tocamos os objetos e os habitamos. Toda a forma de expressão, de relação, tudo o que posso querer, ser ou estar, tudo o que me faz ser no mundo está vinculado ao meu corpo. 


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